Tempus Fugit. Carpe Diem


Há duas figuras, duas mulheres da expressão artística brasileira que me fascinam.

Atraem-me de uma forma estranha. Como se fosse para baixo. Para longe. Para ser diferente delas.

Uma delas é a Gabriela – Cravo e Canela, do meu querido conterrâneo baiano Jorge Amado.

Aquela da qual meu irmão baiano Caymmi diz:

“Eu nasci assim, eu cresci assim
Eu sou mesmo assim
Vou ser sempre assim
Gabriela, sempre Gabriela…”

Desgraçada e imutavelmente Gabriela.

Pra sempre a mesma.

Como se estivesse concluída, terminada.

Teimosamente a mesma de sempre.

Fechada em seu mundinho de se manter a mesma pessoinha de toda a vida.

A outra é a Carolina

Carolina é outra mulher também fechada.

Encastelada e deprimida.

Terrivelmente acomodada ao seu pequeno mundo. Ao seu reduzidíssimo universo.

Esta última inspirou (de forma fictícia ou não, não sei) o também baiano Caetano a poetizar sua teimosia de continuar aprisionada talvez a um passado, a alguém, a algum fato anterior de sua vida que lhe imputava escravidão. Depressão mesmo.

O mundo passava, acontecia e ela estava lá: trancada. Não viu, não se divertiu, não criticou, não sorriu.

Vegetaram assim:

“Carolina, nos seus olhos fundos guarda tanta dor,
A dor de todo esse mundo
Eu já lhe expliquei, que não vai dar,
Seu pranto não vai nada ajudar
Eu já convidei para dançar, é hora, já sei, de aproveitar.

Lá fora, amor, uma rosa nasceu,
Todo mundo sambou, uma estrela caiu.
Eu bem que mostrei sorrindo pela janela, ai que lindo!
Mas Carolina não viu.

Carolina, nos seus olhos tristes, guarda tanto amor,
O amor que já não existe
Eu bem que avisei, vai acabar, de tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei pra lhe agradar, agora não sei como explicar.

Lá fora, amor, uma rosa morreu,
Uma festa acabou, nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela,
O tempo passou na janela e só Carolina não viu.”

Carpe diem: aproveite o dia! “Colha o dia!”

Tempus fugit: o tempo foge!

Não quero ser como Gabriela.

Longe de mim ser parecida com nossa Carolina…

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