20.07.2007


Hoje é o dia do aniversário do Senador Pinheiro Machado (conhecido como “o chefe’), um dos políticos mais atuantes da República Velha, um dos maiores rivais do escritor baiano e também Senador Rui Barbosa. Este, progressista.

Aquele Senador, de estilo conservador, foi acusado de manter irregularidades nas votações do Brasil na época.

Considere-se que o que prevalecia naquela altura da história brasileira eram os poderes políticos e não o pós-moderno voto eletrônico. Assim as “falhas” nos resultados das eleições eram constantes. Além disso, vale ressaltar, lá não existiam painéis eletrônicos.

Pois o tal macho opôs-se à hegemonia paulista e à aliança entre São Paulo e minas Gerais (conhecida política do Café com Leite) e conseguiu promover a ascensão da nova oligarquia, agora a gaúcha, no País.

Suas últimas palavras por escrito são:

Neste momento em que a Capital da República está profundamente agitada por elementos subversivos, que evidentemente procuram atentar contra a ordem, as autoridades legais, quiçá contra as próprias instituições…

Resta verificar quem eram esses “baderneiros” e quais os seus anseios como cidadãos.

Qualquer semelhança entre as épocas, datas ou pessoas conhecidas pode ser mera coincidência.

Um pouco de política. Um pouco de religião.

Confesso que tenho me esforçado para não dar a este blog caráter de confissão política ou religiosa.

A discussão sobre neutralidade, em qualquer espaço, suscita questionamentos dos mais relevantes. Se afirmar que sou neutra, já terei pontuado, desde então, minha posição sobre as coisas.

Dizem que quem cala, consente. A explicação passa mais ou menos por ai: se me “finjo” de neutra, estou é declarando que sou a favor do estado de coisas que se me vêm à frente.

Então eu grito, esperneio: não posso aceitar, não vou me adaptar! Não posso concordar com descaminhos, especialmente se estes prejudicam o ser humano, em qualquer âmbito de sua existência.

E sou alma. Como diria Joe: sou Luz.

Sou transcendentalizada. Relaciono-me comigo mesma e com outros. Tenho encontros com o Divino.

Enfim, sou gente.. Não posso me desvencilhar de minha própria humanidade.

Explicações à parte, ontem experimentei duas grandes alegrias: assisti à vitória do presidente Lula e ao Código da Vinci – Duas das minhas mais vigorosas expectativas dos últimos dias.

Quanto à primeira alegria, explico-me: um presidente nordestino, sem curso superior (apesar de ter recebido o merecido título de Doutor Onoris Causa), conseguir vencer o preconceito e a ira dos detentores do poder e alcançar, mais uma vez, o governo brasileiro realmente me deixa emocionada.

Além de propor um projeto de governo que, mesmo sem estar no poder, delineia uma proposta diferente da dos neoliberais para o País. Chegar ao governo não significa chegar ao poder, uma vez que quem manda aqui é mesmo o poder do capital. Os banqueiros que oferecem nossos jornais, as grandes empresas, as multinacionais que enfraquecem a indústria brasileira. Isso provoca a falência de nossas empresas que não têm forças para concorrer com tão imensos Golias.

Esmagar, pelo menos nas urnas, o orgulho da dita “elite” brasileira que, curiosamente, sendo detentora do poder, não mais consegue exercer sobre a população a sua própria vontade, com se fôssemos seres não-pensantes que tivéssemos que obedecer, para sempre, os mandatários. Como era no período militar: “se não obedecer, força brutal nele, até à morte!”.

A vitória de Lula, para mim, é a vitória dos pobres. Dos oprimidos. De quem nunca teve voz ou vez. De quem lutou contra a ditadura e é contra qualquer ato de autoritarismo ou opressão.

É como se os valores fossem invertidos e, agora, o pequeno e fraco vence ao poderosamente mais forte.

É óbvio que Lula, para vencer, tenha precisado fazer alianças e necessite agir com muito cuidado frente aos contrários à sua linha de governo. Os monstros são ferozes e andam ao redor, desejando devorar qualquer proposta negativa à sua vontade.

Não deve ter sido fácil resolver as questões brasileiras junto ao FMI. Não deve ser fácil investir em Universidades Públicas, se a agenda multilateral pretende que sejamos mão-de-obra barata e não especializada. Não deve ser fácil ver as tramóias da mídia comprometida com o capital que busca, de todas as formas, assumir o poder através de nossos governantes.

Não deve ser fácil posicionar-se contra o desejo perverso de privatizar todas as empresas nacionais.

A vitória de Lula é, para mim, a vitória contra os preconceitos que nós, todos os nordestinos, sofremos todos os dias. É vencer nossos maiores obstáculos mundiais e poder vislumbrar novas possibilidades.

A governabilidade exige, sim, que o Presidente assuma posturas, de um modo geral, ligadas aos poderosos, aos donos do dimdim. Mas uma luz aqui e ali se encontra em cada proposta do governo Lula.

Quanto ao Código da Vinci, claro que não sou expert em cinema nem vou me arriscar a fazer um comentário técnico sobre o filme. Quem sou eu?

Matei a vontade, gostei do filme, embora minha fé em Cristo não tivesse sido abalada. Nem um pouco.

Só achei curioso quando o Robert, ao apresentar seu livro sobre simbologias, requisitasse da platéia que fosse identificando o que significava, para a platéia, cada símbolo apresentado. Há um momento em que uma ouvinte responde em espanhol: “la cruz del diablo!” E o ator, apresentado pelo querido Tom Hanks, solicita imediatamente: “em nosso idioma!”.

É exagero meu ou uma outra língua (que não seja a inglesa) não cabe em espaços intelectuais?

Limites e compatibilidades entre o ser e o ter.

Ontem eu estava num dos salões do centro daqui de minha cidade aguardando uma pessoa e presenciei uma cena interessante.

Chegou um rapaz muito bem arrumado, desses que a gente costuma chamar de ‘metrosexual’. Todo arrumadinho, cheio de etiquetas, alto, loiro e elegante. Uma figura bonita. Ele havia ido ali clarear ainda mais o cabelo. Talvez fazer as unhas…

O que me fez refletir é que além do maravilhoso e diferenciado atendimento que ele recebeu, ofereceram-lhe uma revista e, na tentativa de tratá-lo da melhor forma possível, a recepcionista lhe sugeriu uma revista para ler. Ao ser perguntado sobre qual revista prefereria, ele, orgulhosamente respondeu: “tal revista, de preferência.” E eu fiquei agoniada. Eu queria ter questionado a preferência política da revista escolhida e ter dito que eu teria vergonha de ler aquilo na vista das pessoas. Não! Não era uma revista pornográfica! Era uma dessas revistas semanais que dão a impressão (e só a impressão) de que está instruindo e passando informações. O problema está aí: mensagens tendenciosas, cheias de pouca ética e rara possibilidade de demonstrar claramente vários pontos de vista sem qualquer viés.

Outro dia, enviaram-me alguns exemplares e, ao final do envio, uma moça desta mesma revista ligou para meu telefone comercial para firmar com ela sua assinatura. Eu pedi que não mais me enviassem aquilo e fui veemente nesse sentido. Não quero perder meu tempo lendo o que não me interessa.

Está bem. Assumo! Estou sendo radical. Talvez fosse interessante, em estando num salão de beleza da vida, ler algo assim ao menos para ter o que falar contra… conhecer é interessante, mesmo que seja o que você não concorda. Só não tenho tido tempo para isso.

No segundo semestre do ano passado esta mesma revista entortou falas de vários intelectuais brasileiros que são (como quase todo intelectual de bom senso) contra o neoliberalismo e pôs em xeque o pensamento dessas pessoas que tanto contribuem para o pensamento desta nação. Enviesou reflexões, distorceu idéias e tentou fazer-nos entender que no Brasil não se pode pensar. Bem a gosto da clara intenção dos países ricos: temos que ser mão de obra barata e não especializada: que eles produzam conhecimento e nós apenas o consumamos. É lastimável… Assim, o nosso ensino superior não passa de reprodutor de conhecimento (sem considerar outros níveis de educação), temos nossos pontos de vista pautados a partir da mídia e dizemos orgulhosos que estamos em desenvolvimento (?). Pedro Demo afirma que enquanto o primeiro mundo pesquisa os outros dão aulas. Rs.

Há uma diferença entre inteligência, informação, conhecimento e sabedoria.

Nada contra ser bonito e se cuidar. Só fica a contradição: ser e ter se confundem facilmente. Para nosso prejuízo.

Escolhi uma revista sobre maquiagem. Aprendi a usar melhor meu baton.

“Narciso acha feio o que não é espelho.”

Quem somos afinal?
(Iêda Sampaio)

O discurso de que “todos são iguais” reflete uma cultura de massa presente na nossa história, especialmente nesse momento em que se vive a terceira revolução industrial.
Enxurrada de informações e fácil acesso ao conhecimento, necessidade de ser capaz de articular questões e elaborar com habilidade sua própria existência, ou seja, ser crítico e autônomo confunde-se com imposições sociais ainda maiores, já que essas imposições culturais são feitas, via de regra, por dominadores, pelos detentores do poder, pelo próprio capitalismo.

Há uma forte campanha ideológica, insinuada, implícita, para que os modelos legitimados por uma minoria dominante sejam atendidos, aceitos, homologados por uma imensa maioria sem voz e sem vez, especialmente nesta Nação, em detrimento dessa última.

É como se as pessoas tivessem sofrido uma avalanche, ou por elas passasse um rolo compressor que as tornasse uma só. Iguais. Todas idênticas. Como uma grande massa, um produto qualquer, portador de passividade, de silêncio, de limitações.

Há uma mensagem explícita nas intenções, nas campanhas da mídia, nos discursos políticos e/ou ditos humanitários deste século: todos possuem direitos e deveres, ou seja, todos são cidadãos e necessitam, assim, de cidadania para serem ou sentirem-se homens e mulheres plenos, completos, realizados, participantes e agentes ativos na construção de seu próprio mundo. Que, diga-se de passagem, não é uma realidade dada, mas construída diariamente.

Há muitos exemplos que apontam a imposição ideológica que norteia nossa vida diária, mas cito apenas três deles neste texto, que chamarei de preconceito religioso, lingüístico e preconceito contra os Portadores de Necessidades Especiais.

Estes preconceitos dizem respeito a uma visão distorcida e pobre das diferenças, das individualidades, da pluralidade cultural que permeiam a vida das pessoas.

1. Preconceito Religioso. homens e mulheres possuem diferentes concepções de Deus. São pessoas iguais do ponto de vista humano, sim. Como Kant afirma, “moradores de uma mesma casa”. Discórdia de pensamentos, de percepção do Eterno não lhes impede de conviverem (e bem) com o outro ser humano, portanto, diferente dele.

Embora o Brasil seja um exemplo positivo dessa possibilidade de uma convivência saudável entre os de diferentes religiões, ainda há muita exclusão, estigma tecida em torno do outro, do meu diferente como pessoa, aqui ou ali, como se ‘o outro’ fosse um inimigo, alguém com quem devo lutar.

2. Preconceito Lingüístico. Vivemos no mesmo País e temos diferentes expressões de linguagem. Comunicações são diariamente estabelecidas e mesmo assim, existe o mito de que o povo brasileiro não conhece sua própria língua, como afirma Marcos Bagno em seu livro “Preconceito Linguístico”.

Na verdade, o povo resiste mesmo é a ‘privilegiada’ Gramatica Normativa – instrumento de poder legitimado pelos gramáticos. Logo, por pouquíssimas pessoas. É como se não considerassem que a língua é um fator histórico e que, em seu contorno, há todo um movimento de classes, de interesses, de necessidades do próprio homem.

Aqui, neste texto, não se faz uma apologia à linguagem não culta, muito menos se legitima os ditames da Gramática Normativa. Convida-se, sim, a uma reflexão acerca da quantidade de injustiça e preconceito que se efetua sobre e contra o brasileiro menos favorecido, que por questões sociais, históricos ou de outros aspectos, não teve acesso àquela gramática.

3. Preconceito contra os Portadores de Necessidades Especiais – PNE. Ainda vistos como coitadinhos e inválidos (idéia herdada dos tempos antigos e de uma concepção médica que perdurou e esteve como único ponto de vista até 1920 – (SASSAKI).

Vale ressaltar que essa prática, a da exclusão, ainda existe muito em nosso meio). Os PNE viveram muito tempo praticamente sem serem considerados gente, já que, sendo vistos como pessoas sem uma função ou valor na sociedade, não eram favorecidos com um olhar justo sobre sua cultura, suas particularidades, suas necessidades e/ou seu potencial humano mesmo de ser cidadão, capaz e produtivo.

Ainda é muito comum se flagrar pessoas com o pensamento e – pior – com o comportamento de quem vê o Deficiente Auditivo, Visual, Físico ou Mental como um doente mental. E há pessoas com medo de outras, apenas por suas diferenças.

Isso tudo em detrimento do que propôs a Declaração de Salamanca, por exemplo, ou outras muitas ações significativas efetivadas de entidades, organizações etc., sem contar as inúmeras páginas de legislação que já existe no sentido da inclusão. Infelizmente a sociedade ainda é exclusiva.

Se todos são iguais, por que não se pode dialogar com as diferenças? E o respeito? E a necessidade de convívio? E o imperativo da paz? Há mais questões ideológicas sobre essas forças contrárias do povo contra as injustiças do que se pode imaginar.

Cada pessoa é uma. E Cada pessoa é parte de um todo. Durckeim já afirmava a força da sociedade sobre a formação ou a existência do homem. A pessoa humana e a sociedade sofrem todos esses preconceitos, sejam eles provocados ou construídos por elas e/ou apenas recebidos e aceitos sem reflexão – típico dos preconceitos.

Sócrates já afirmava na Antiguidade Clássica que o maior mal que o homem sofre é o que ele mesmo provoca, pois, ao fazer o mal ele tanto provoca o mal ao outro quanto se corrompe a si próprio (entenda-se ‘mal’, neste texto, como a aceitação a todos os preconceitos contra a própria espécie humana).

Se no aspecto pessoal isso é ruim, que dizer de toda a sociedade com posturas preconceituosas? As conseqüências disso se percebe nas dores e angústias que os excluídos vivenciam diariamente.

Excluir a exclusão já foi prenúncio da Declaração dos Direitos Humanos no século passado. Excluir a exclusão é um grito necessário em nome da paz e do bem comum e em nome da superação da pessoa humana na sua superação, na sua “vocação ontológica de ser mais” (FREIRE).

É necessário desligar-se das construções massificadoras e assumir-se como pessoa única, com suas preferências, não se esquecendo, porém, que somos uma construção social. Ou seja, qualquer movimento para uma transformação dessas posturas equivocadas e preconceituosas deverá passar necessariamente por uma atitude pessoa e pela alteração das concepções sociais acerca do que é ideologia, cultura de massa, multicuturalismo e diálogo, …muito diálogo.

Ainda insistimos em afirmar que todos são iguais. Há que se entender que há diversidade na unidade e que somos iguais, sim, mas muito diferentes uns dos outros.

É cansativo…

É cansativo.
Ver que a maioria das pessoas vai se deixando levar pela opinião construída pela grande mídia e parece não ter o direito (eles não são considerados cidadãos?) de questionar, de opinar… Ir às urnas é pouco – muito pouco – para demonstrar seus desejos e mais que isso, suas necessidades.
Eu também sou gente! Também quero ver tudo mudar. Também quero curtir essa utopia e vê-la perto, muito perto. Pensei que sim. Vejo que o realizável se distancia, que as forças contrárias (elite, mídia, empresas, banqueiros, poderes multilaterais/internacionais…) são incrivelmente fortes. Entendo porque “o mundo jaz no maligno” como diriam as Escrituras. E não estou espiritualizando os fatos!
Há outras coisas que tb me cansam.