Ser mulher

Tenho uma predileção especial para estudar mulheres.

Eu penso nelas como gente, como pessoa em ascendência.

Desde Simone de Beauvoir e o movimento feminista, desde as lavadeiras de roupas às margens dos rios em nossas cidades e sua luta pela sobrevivência, o tema me instiga e intriga.

Ser mulher nos dias atuais é algo que beira à contradição: se por um lado ocupamos espaços que historicamente eram como propriedade e direito masculinos, sofremos ainda preconceitos de toda sorte, por todos os lados.

É comum procurarem “o chefe” em departamentos em que só trabalham mulheres ou imaginarem que se a mulher está sozinha ela pode ser assediada de qualquer forma.

Hoje uma cena me chamou a atenção, logo cedo. Observei melhor, com a ajuda de jornalistas, a foto da reunião da Casa Branca sobre os ataques que levaram Osama Bin Laden à morte.

Eu quero ver e pensar aquilo do ponto de vista feminino. Hillary Clinton, na sala de reuniões, era uma das únicas mulheres entre aproximadamente dez homens. Há também, ao fundo da foto que foi divulgada pelos EUA, uma outra mulher. De pé, ao fundo. Os jornalistas afirmavam que ela não tinha qualquer importância. Para quem?

Fiquei pensando que Hillary foi a única pessoa do grupo a expressar, com a mão direita na boca e em silêncio, o que ninguém soube dizer.

Aquela mulher pode ter ficado preocupada com o que aconteceria com os militares que, de helicoptero, estavam naquele momento entrando na casa onde estava Osama e seu grupo. Ou ela pensava que certamente teria sangue e isso seria visto em seguida, não se sabe.

Sendo mulher, Hillary demonstra na foto que sofreu. Talvez houvesse considerado sua maternidade – posto que só uma mulher pode considerar isso – e houvesse sofrido ao saber que vidas seriam ceifadas… não se pode ir no coração de ninguém.

De qualquer forma a mulher fala. Fala muito. Fala nas entrelinhas, em sua expressão corporal, com as mãos, com os olhos. Homens também. Claro. Há, porém, no gesto feminino algo de profundo, de materno, de curioso, de espetacular.

Sinto que muitas mulheres não compreendam bem a liberdade conseguida com luta a partir do Movimento Feminista.

Sobre o assunto, creio que sejam pertinentes as observações abaixo:

  • Definitivamente mulher não é igual ao homem.
  • Nós pensamos diferente, temos nosso olhar próprio sobre as coisas.
  • Nós não estamos em promoção, não somos baratas.
  • Nossa maternidade (latente ou manifesta) nos dá autoridade para falar com mais propriedade sobre vida ou morte.
  • Chegando perto de um ser feminino é sempre bom se lembrar da palavra reverência.
  • Não subestimar jamais a inteligência de uma mulher.

Não se deve ter vergonha de dizer: isso ou aquilo eu não consigo fazer porque não tenho forças. Se homens tem músculos, é bom que sejam usados. Força para quem tem força. Eu não preciso brigar pelo poder do outro.

Eu não preciso entrar em concorrência em minha casa se eu lavo melhor os pratos que meu companheiro. Há coisas que, como mulher, faço melhor. Outras que ele, como homem, faz com melhor eficácia.

Não há sentido em ficarmos competindo. A vida é maior e melhor que as quinquilharias que criamos.

Sou pelo Movimento Feminista que ainda hoje se perpetua no mundo inteiro. Apedrejar uma mulher por adultério significa dizer que ela estava numa relação sozinha. Cadê o seu parceiro? Também seria apedrejado?

Sou por um movimento inteligente que percebe e respeita os espaços de cada gênero mas que também fortalece a mulher a desconfiar que seu comportamento deve ser o de gente emancipada, resolvida, bem orientada e confiante.

Outro dia vi uma mulher em plena Av. Rio Branco, aqui em Jequié, dançando uma daquelas músicas baianas das quais a gente tem vergonha. Preconceitos e moralidades à parte, ela abaixava e se levantava com sua saia curtíssima, crendo que atrairia alguém, talvez.

Pode ser. Pode atrair. Há gente e pensamento de toda sorte. Há pessoas para quem aquele gesto é só mais um gesto que lhe excita ou não.

A minha pergunta é: qual o lugar, qual o espaço que aquela mulher pretende ocupar em sua existência? Que tipo de sentimento ela proporcionava a quem estava por perto? Que visão de gente a gente pode ter ao ver as tão lindas moças – e homens – com essas novas danças (danças?)?

As sociedades Romanas e Egípcias, por exemplo, eram mais imorais que a nossa. Certo. Então não cabem aqui discursos moralistas. Não em pleno século XXI.

Cabe, sim, em qualquer época, a criticidade sobre nossas ações como gente, o questionamento sobre nossa capacidade de ser, pensar e agir. Isso, sim, julgo ser pertinente numa sociedade em que as pessoas sofrem seus males e vão para nossos consultórios com existências desintegradas e completamente deprimidas e/ou ansiosas por não terem se encontrado como gente.

Mais mulheres que homens?

Este mês se comemora o dia internacional da mulher.

Houve, de forma justa, muitas homenagens, flores, recadinhos, eventos, festa nesse dia.

Concordo plenamente que ser mulher é ter particularidades que inspiram ao mais rigoroso e poético dos românticos. Leveza, doçura, firmeza, maternidade.

Porém algo me intriga, especialmente quando estou em roda de amigos.

Os homens costumam se vangloriar afirmando que têm a mulher que desejarem à hora que quiserem. E eu sempre fico observando atentamente cada uma das suas afirmações machistas.

O argumento é, quase sempre, o mesmo: há menos homens que mulheres e já que estas não podem ficar sozinhas, basta uma cantada de leve e já se consegue o peixe fácil, fácil.

Dia desses intriguei um grupo de profissionais afirmando que, neste caso também, quantidade não significa qualidade. E que realmente é fácil conseguir ter nas mãos mulheres do tipo que eles têm comumente.

Parece machista meu posicionamento. Pode parecer. Mas aquele grupo ficou envergonhado e concordou comigo: o tipo de pessoa que conseguem facilmente não os satisfaz e, por isso, ficam fazendo experimentos aqui e ali, além de contarem com a amarga experiência das intermináveis comparações. Isso significa que estarão, a partir de cada novo contato, mais exigente, menos felizes.

Eu não estou, com isso, afirmando que de um modo geral as mulheres não valham muito. Ao contrário, quero defender a idéia de que comumente não se dão o devido valor.

Há indicações contrárias na sociedade mas ainda acredito que valores como auto-estima, verdade, beleza interior, riqueza intelectual, saúde emocional façam muita diferença nas pessoas nestes dias, como sempre foi.

Emancipação financeira dá à mulher uma certa desenvoltura, mas seu caráter pode ser moldado por outras vias que não necessitam necessariamente de dinheiro.

Firmeza emocional e leveza no jeito de ser também são itens imprescindíveis à formação de uma mulher amplamente segura de si. Esta pessoa será uma ótima companheira e, por certo, os homens a desejarão.

Desprezar toda e qualquer forma de preconceito, de grosseria também pontua um bom diferencial feminino.

Acredito que ser dona de si, saber o que quer, compreender que ela mesma pode mudar (e várias vezes) o rumo de sua própria história dá à mulher um toque de singularidade. Esta mulher não se subordinará a situações de infidelidade, constrangimento e/ou violência masculinas.

Sentimento de plenitude pessoal é algo que se conquista, muitas vezes e de muitas maneiras. Sobremodo em meio à dor. Mas é conquista diária da qual não se pode cansar.

Homens têm medo de mulheres assim. No entanto, contraditoriamente, preferem mulheres que andem sozinhas. Um homem raramente tem coragem de se aproximar de uma mulher que esteja num grupo de outras mulheres.

Estar sozinha fortalece nela a idéia de que ela mesma pode se satisfazer em vários aspectos. Necessariamente seu par chegará perto para compartilhar de uma felicidade já existente; não para fazê-la feliz.

Uma mulher que se reconheça e se respeite é conquistada por um custo de excelência.

Feliz o homem que estiver ao seu lado.

Eu, particularmente, ainda acredito que há poucas ‘mulheres’ no mundo.

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