-“E como vai ser a partir de agora se minha mãe resolver ir morar em outra cidade?”
Foi com essa pergunta que ela chegou no consultório há três anos. O rosto vermelho de tanto chorar, uma menininha de doze anos muito triste ao saber que seus pais estavam se separando.
A confusão emocional estava montada e não era para menos: ela amava os pais mas já sabia de antemão que se um morasse numa casa e outro noutra seria sofrimento na certa. Sofrimento para ela: ela não estava acostumada a não poder curtir a segura presença do pai e a amorosa presença da mãe ao mesmo tempo.
A partir de agora, se quisesse, ia ser assim: dois dias da semana com um e o resto do tempo com o outro.
Mas a dor não parava por aí: tinha a insegurança, o medo de ver o pai com nova namorada, o medo da nova vida. Seria muito ruim estar sem os dois ao mesmo tempo. E se a mãe resolvesse também arranjar novo namorado?
-“Eu tinha percebido que há algum tempo eles estavam dormindo em camas separadas, mas achei que não fosse nada demais. Eles estavam prestes a se separar e eu não pude fazer nada para mudar essa situação. A única coisa que me resta agora é chorar. Chorar até eles entenderem que nós, filhos, estamos sofrendo demais da conta.” Esse foi um caminho de chantagem que ela maquinava contra os pais.
É sofrimento mesmo. Para todos. Para os dois que não encontram mais sentido em seguirem juntos; para os filhos que vão precisar de um bom tempo para assimilar melhor esse momento e se adequar à nova vida.
Mas se não tem jeito, se está decidido (e essa resolução é problema mesmo dos pais, num primeiro momento e nunca vem de uma hora para outra – é quase sempre coisa de longo tempo de desentendimento.), o que vou fazer?
Eu teria algumas dicas para pensar nesse momento. Talvez a ajude a elaborar algum pensamento sobre o assunto:
1. Viver essa realidade. Seguir com coragem como se isso fosse um cálice amargo que a gente tem que beber mesmo. Fere, dói, mas é um momento que posso usar para amadurecer minhas emoções, procurar lidar com as dores da vida da melhor maneira possível, para o bem de todos;
2. Aceitar que, se são adultos e decidiram pela separação, é por entenderem que isso é o melhor que escolheram para si mesmos. E se eu quero o bem de meus pais, devo buscar compreender que é melhor se separarem em paz do que viverem brigando e se machucando o resto da vida;
3. Com o passar do tempo as coisas vão se encaixando, vão acontecendo. Assim como a vida é flexível, os acontecimentos vão indo e vindo. Quem sabe como será amanhã? Não adianta sofrer por antecedência.
4. Valerá a pena viver um dia por vez. E ver, dia a dia, o que acontece, como o tempo vai passando. Nem tudo está perdido e ainda teremos alegrias e lutas para experimentar.
Coragem talvez seja uma palavra tônica, muito bem vinda, para momentos assim.