A idéia traz consigo uma exigência para pensar: se estou muito fixada em atingir altas metas e ‘ser a pessoa mais feliz do mundo’, vou moldando minha existência a partir do difícil, do inatingível, do impossível. Fica difícil viver e vou tendo ansiedade, medo, transtornos.
Não é difícil, a propósito, ouvir até de bocas ditas religiosas o mesmo discurso: “coisas sobrenaturais devem acontecer a todo momento, aqui e ali”. É como se estivéssemos tão cansados da vida cotidiana, daquela que é mesmo rotineira, sem grandes emoções ou novidades e precisássemos lançar mão do exagero, do maravilhoso, do fato além do aqui, além da imaginação.
E qual o maior problema desse tipo de pensamento? Não é mesmo bom lançarmos nossa alma para o infinito e sairmos da maresia, do rotineiro? Sim. Talvez. Inclusive defendo a idéia de que precisamos de um pouco de fantasia para aplacar nossas dores e/ou dificuldade que temos de dormir.
O contra-ponto mesmo do caso é que se temos o coração em fatos extravagantes e excepcionais, no ato espetacular mesmo, perdemos nossa sensibilidade para ver com alegria as coisas naturais. Aquelas mesmo do nosso dia a dia, as coisas simples… Talvez um céu cheinho de estrelas que nunca mais nos encantou pois “precisamos de mais”, sempre.
Daí fica fácil a nossa vida ficar vazia e sem sentido pois a meta não será alcançada nunca. Pelo menos não tão perto daquela expectativa que criei de ter a barriga igual à daquela modelo internacional ou o cabelo igual ao daquela famosa atriz. Ou o salário do Bil, ou o jatinho daquele Fulano de Tal.
A grama do vizinho parece ser sempre mais verde e a minha – pobre da minha – seca, pobre, feia, desalinhada.
Crio muita expectativa sobre minha felicidade e me esqueço de viver minhas pequenas alegrias.
Traço uma linha extremamente alta sobre o próximo ponto em que deverei ir e nem um passo – um passinho sequer – consigo dar além consigo dar, porque o que vale mesmo é o passo grande, o que me faz ser milionário, o que me oferece a família mais bela e perfeitinha.
Talvez um pouco de dose de realidade me ajude a sondar meus próprios passos, reavaliar e aceitar minhas próprias circunstâncias com coragem e disposição para lidar com o que não posso mudar, tentar modificar o que for possível e me alegrar com o que já tenho em mãos.
O ótimo é inimigo do bom. Se meu coração está no ótimo, no extraordinário e não o alcanço, me canso fácil, desanimo da luta e penduro as chuteiras.
O bom está aqui, na altura dos meus braços e posso agarrá-lo. Talvez transformá-lo em ótimo, quem sabe? Mas já é bom. Já é o possível. O que posso realizar.
Eu tenho os pés no chão.
Amiga, amiga…
Concordo com sua fala e falo mais, lidar com o que está ao nosso alcance não resume nosso modo de viver. Convivemos com o que nos é mais próximo e muito bem com o que sonhamos e fantasiamos, como vc sitou. Nossos pés no chão, talvez na pontinha do pé, como criança querendo puxar a toalha da mesa, com toda a louça em cima…
Bjus e saudades
Roquelinne