Você é daquele tipo de pessoa que conta todos os seus segredos, medos e inseguranças à seus filhos menores?
Você acha interessante que seu filho menor de idade ouça com atenção e até sofra com você por causa de seus problemas?
Essa é uma questão que tem me chamado a atenção ultimamente.
Quando eu era criança, minha mãe tinha brigas com meu pai que nós nunca tivemos conhecimento.
Mesmo sem um vasto conhecimento acadêmico e sem um diploma de Psicologia na mão, ela nos poupava da vida dura que levavam, das intrigas e lutas que um travava diariamente com o outro.
Nós, crianças, em casa, tínhamos o direito de brincar, de viver nossas fantasias infantis, de estudar em paz.
Nada além da escola e do tema da próxima brincadeira nos tomava a atenção. O coralzinho da igreja também era uma alegria. As artes, as leituras, os brinquedos feitos por nós, eram donos de parte importante de nosso tempo.
Confesso que tive uma infância feliz, embora como todo ser humano fosse vítima de pequenos traumas, aqui ou ali.
De uma coisa nossa mãe nos protegia, quando nos poupava dos seus problemas: ela nos protegia da vida dura, ela permitia que nossa criatividade e alegrias tivessem lugar em nossa primária consciência infantil.
E seus filhos foram formados pessoas íntegras, saudáveis, saciados com o pouco que tínhamos e com força necessária para modificar a realidade ou para buscar melhorá-la de alguma forma.
Voltando à questão do nosso tema: miniadultos são crianças que não possuem o direito de ser, pensar e agir como crianças, em seus respectivos período de maturação.
Em outras palavras, chamo de miniadultos aquelas pobres criaturinhas bombardeadas diariamente pelo sofrimento de seus pais.
Tanto por brigas que eles presenciam, quanto por contas que nunca se fecham, quanto pelas dores próprias dos adultos, nossos filhos estão sendo diariamente afetados pelo difícil mundo dos adultos.
O Estatuto dos Direitos da Criança e do Adolescente orienta que eles não trabalhassem, que eles tivessem o direito de brincar e de se desenvolver a seu próprio tempo, tanto intelectualmente, moralmente, fisicamente etc.
Infelizmente quando contamos nossos problemas cruamente para nossos pequenos, nós não podemos controlar nem imaginar o que isso poderá originar na mente dos nossos queridos filhos.
Se é preocupante alimentarmos apenas um mundo de fantasias em nossas crianças, gerando com isso adultos imaturos, também é bastante sério provocar medo da vida em nossos pequeninos quando não os poupamos de nossos monstros, de nossas dores, de nossa difícil vida adulta.
Conheço várias crianças que não querem crescer, pois a conversa dos pais em casa é que a vida lá fora é amedrontadora e que ser adulto é triste, difícil, uma verdadeira luta.
Conheço crianças inseguras e apavoradas porque seus pais lhes contam diariamente coisas tristes, violências, dificuldades financeiras etc.
Em que medida você acredita que sua criança vai querer viver de verdade num mundo assim?
Vejo adultos infantis, imaturos, desestimulados a seguir e eles receberam uma escola em casa: a escola do medo, da palavra desencorajadora, ameaçadora.
Uma pena que justamente esses pais esperem o contrário de seus filhotes: que eles sejam adultos emancipados, donos de si, alegres, confiantes e vitoriosos.
Criança precisa brincar, precisa viver.
A infância deveria ser a fase mais lúdica, mais agradável, mais criativa da vida.
Que possamos pensar sobre como somos, o que falamos e como nos comportamos diante de nossos filhos.
Que tenhamos sabedoria diante da vida, diante dos pequenos.
Após nova reclusão, da vida social real e virtual, dessa vez um tanto longa, não poderia deixar de cumprir minhas juras de voltar e ver o que tem de novo nesse belo espaço.
Eis que me deparo com um texto perspicaz, prenhe de análises sensíveis, mormente no que tange ao estabelecimento da correlação entre o tornar-se o indivíduo emancipado, sujeito de si, e a vivência plena por parte deste, da sua infância, daquilo que só esta etapa da vida pode oferecer.
Concordo também que está para o automatismo alienado, inconsequente, inseguro e não consciente (só para diferenciar de “inconsciente”), justamente este cercear da fantasia, o tolher a criatividade, o impedir a fluência do ineditismo deste momento único, não reeditável.
Penso que a hiperindividualização contemporânea nos tem feito, inclusive, menos formadores, porque para formar é preciso doar, ceder, transigir, dialogar, e pra isso é necessário um esforço de empatia e alteridade. Ver as coisas que estão além da nossa “montanha” de problemas e dificuldades exige superar-se, coisa que a fugacidade com que temos tratado a nós mesmos, aos outros e às coisas, a tal correria da rotina, tem tornado um desafio cada vez maior. Tenho medo de estarmos nos tornando cada vez mais ineptos para a função de pais, até porque acho difícil assumir tal posição, prescindindo do seríssimo papel de formadores de seres humanos.
Precisamos nos ver, amigo.
Precisamos cantar juntos, conversar.
Saudades de vc. E obrigada por estar enriquecendo meus textinhos com seu excelente ponto de vista.
Oi Ieda, seu texto me faz refletir sobre a minha responsabilidade enquanto mãe (de primeira viagem). Desde que Laurinha nasceu que busco aqui e acolá orientações quanto ao ato de educar e todas as suas implicações na formação integral dessa pessoinha que entrou em nossas vidas. Ser mãe/pai é um oficio que se aprende a cada segundo, a cada respiração e por vezes dá um medo….quanta responsabilidade…
É bom contar com esse tipo de informação.Obrigada.Um cheiro. Josi.
Oi, JOsi;
Que bom poder contribuir.
Estou a disposição, pro que for necessário.
Beijocas.