Há um livro que diz que a língua da gente é como uma fagulha pequenininha, mas seus efeitos podem incendiar uma floresta inteira. Parece que o texto quer dizer: fale menos!
Rubem Alves prenuncia que há cursos de oratória em todo lugar. De ‘escutatória’, não. E é disso que nós, profissionais, pais, professores, líderes de um modo geral precisamos.
É fato: temos apenas uma boca e dois ouvidos. Certamente a intenção do Criador era que ouvíssemos mais e falássemos um pouco menos.
A Internet está cheinha de gente querendo falar. Prova disso são os milhares e milhares de blogs que, já riem os entendidos, são lidos apenas por seus próprios escritores. Nossos consultórios estão lotados de pessoas que precisam pôr para fora o que lhes angustia. Nossas empresas clamam por líderes capazes de ouvir seus liderados em suas supostas limitações e queixas.
Parece que temos uma crise enorme nessa área: de alguma forma perdemos (alguma vez tivemos?) a capacidade de nos inclinarmos ao outro desarmados, abertos, acolhedores, apenas a ouvi-los.
Ouvir tem a ver com acolher. Sim. Quem ouve o outro demonstra-lhe um tipo de amor raro nos dias de hoje. Quem escuta o outro está dispondo seu tempo, sua energia, sua agenda ao seu não-eu. Está lhe dizendo: “Venha. Eu te aceito, te acolho. Não te julgo ou penalizo”.
Quando eu falo, me projeto. Quando ouço, internalizo. Recebo. Talvez até entenda\compreenda o outro, quem sabe?
Em apoios pedagógicos e psicológicos às indústrias e empresas percebo que elas querem falar. Precisam desabafar suas demandas, suas dificuldades, suas angústias. Vou, escuto e escuto. Basicamente só escuto. Isso já lhes alivia um pouco as pressões. Num primeiro momento invisto horas a fio diante dos gerentes e\ou líderes apenas lhes ouvindo.
Conheço mulheres que, por não conseguirem escutar seus maridos, põem em grave risco seus relacionamentos. Homens, idem. Conheço adolescentes e crianças que adoecem, ficam com febre ou são até internadas sem qualquer motivo médico. Quando vamos investigar: fator emocional. Ou não estão acostumados a falarem de suas dores emocionais ou nunca lhe deram espaço para isso. (Atenção, mamães e papais!).
Conheço profissionais de saúde que mal olham seus pacientes. Quanto menos os escutam com atenção. Quanto mais pessoas atenderem melhor para seu salário e aquilo que seria resolvido por uma simples palavra custa o preço de toda uma vida calada, recalcada, escondida, amedrontada e não projetada, por que a gente tanto se projeta por meio da fala quanto se cura pelo mesmo caminho.
Conheço também colegas que talvez para provarem que são bons terapeutas “falam pelos cotovelos”. Já vi muita gente boa perder a oportunidade de acolher seus clientes através de uma boa escuta. Ao contrário, lhes contam sobre sua formação, sua vida, seus problemas, sucessos. É estranho mas isso acontece, infelizmente. É o analista precisando de análise.
“Cala a boca, menino” devia ser trocado por “fala, garoto”. Toda vez que nosso filho viesse de uma encrenca, de um mal estar na rua, com alguma queixa ou grito. Ouvir atentamente seu filho está ligado a acolhê-lo em amor.
Quero mais é ouvir. Por isso mesmo vou terminando apor aqui meu texto de hoje.
Excelente!!! Foi muito feliz no seu texto. Mesmo fora de consultórios, como num atendimento bancário, por exemplo, tudo o que o ser humano busca, hoje em dia, é ser ouvido… é encontrar alguém que o compreenda e lhe estenda a mão, e que não fique o tempo inteiro tentando lhe falar da sua própria vida. Mas que esteja ali, atento, e que demonstre que os seus sentimentos são importantes. Vou compartilhar o texto entre os meus amigos. É enriquecedor. Obrigada, cara Psicanalista!!!!Bjos.
Que bom que você gostou.
Fico feliz por isso.
Abraço.