Tristeza

lágrima

A musica Carolina do famoso compositor Chico Buarque nos chama a atenção pela marca de tristeza da moça. O poeta diz:

“Carolina, nos seus olhos fundos guarda tanta dor, a dor de todo esse mundo / Eu já lhe expliquei, que não vai dar, seu pranto não vai nada ajudar / Eu já convidei para dançar, é hora, já sei, de aproveitar / Lá fora, amor, uma rosa nasceu, todo mundo sambou, uma estrela caiu. / Eu bem que mostrei sorrindo, pela janela, ah que lindo  mas Carolina não viu… / Carolina, nos seus olhos tristes, guarda tanto amor, o amor que já não existe, / Eu bem que avisei, vai acabar, de tudo lhe dei para aceitar / Mil versos cantei pra lhe agradar, agora não sei como explicar / Lá fora, amor, uma rosa morreu, uma festa acabou, nosso barco partiu / Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela e só Carolina não viu.”

 

A letra retrata algo muito próximo aos sentimentos que visitam o coração da pessoa humana.  Eu falo de uma tristeza que aperta o peito, que mina nos olhos lágrimas, que revela uma insatisfação, um desânimo pelas coisas boas da vida.

 

Penso que um limite importante que devemos observar é que não há nada de errado em se estar triste uma vez que todas as emoções nos são possíveis. Gosto de pensar que todos nós somos humanos e, como seres humanos, não estamos imunes à emoções tristes.

 

No caso da Carolina, a gente pode perceber um desânimo, um chororô, uma certa nostalgia por um amor que “já não existe” mas ela insiste em não aceitar a dura realidade. O amor acabou e só lhe resta, sob seu ponto de vista, a dor.

 

Parece que ela se torna incapaz, por algum tempo, de ver que ainda há coisas e eventos agradáveis lá fora. Seu movimento interior é tão sofrido que ela não se permite olhar e ver que pela janela a vida segue seu rumo, sem parar. Lá dentro do coração, em seu eu interior, há vazio, solidão, sofrimento.

 

Tenho vontade de conversar e especialmente ouvir cada Carolina de minha geração.

 

Cada pessoa que sofre, que aprisionada em sua dor, entendeu que não há mais solução ou saída. Que não dá para levantar os olhos e ver, além da janela, as muitas possibilidades que ainda existem.

 

Lembro-me que Cristo fez ao cego uma estranha pergunta: O que queres que eu te faça? Ele, que era Senhor de todas as coisas, certamente sabia que o cego que queria ver. Como bom Pedagogo, Ele parece convidar o homem para um tipo de autoconhecimento que fizesse o homem saber o que desejava. Encontrar a palavra certa a ser dita e acessar a sua mais profunda e seria vontade: “Senhor, que eu veja!!!”

 

Entendo que “ver” aí está além de apenas usar as faculdades visuais e conseguir distinguir o azul do céu do verde das árvores.

 

O exercício de olhar, de ver, seguramente tem a ver com ter acesso às inúmeras possibilidades de trocar minha vida sem graça e sem cor por algo mais animado, agradável, vivo.

Lembro-me de Eduardo Galeano que narra a experiência do pequeno Diego que, pela primeira vez diante do mar, ficou “mudo de beleza e quando conseguiu finalmente falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: me ajuda a olhar.”

E penso com alegria na banda Crombie, que canta “Se por acaso eu olhar pra trás / Que seja pra lembrar do que foi bom / Que seja pra nutrir a esperança que hoje mora em mim / Eu descobri o que me satisfaz / E que o tempo não desfaz / E se provar vai perceber a diferença no viver / De resto eu não me prendo / O meu fardo é leve. Ouvi dizer: / “A vida é breve e tudo vai passar” / Que eu saiba aproveitar!”

 

Ah, se eu pudesse encontrar cada Carolina que existe no coração de tantas pessoas sofridas no mundo. Depois de um bom tempo ouvindo relatar sua dor, eu lhe falaria:  Levanta da cama, ergue a cabeça, anima teu espírito, faz algo que te dê vida, abra seu coração para novas e boas oportunidades. Seja você mesma, respire. Aceite e perdoe sua história até hoje e, com um pincel colorido, escreva novas páginas com amor, força e coragem. Dê um novo significado a cada detalhe do que passou.

Seja autora de sua própria vida e viva! Viva intensamente. Sempre.

Quem sabe a gente conseguiria, assim, plantar uma semente de desejo de abrir um franco e largo sorriso nos lábios de cada gente que passar por nós…

Eterna juventude

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(Texto escrito há um ano e dez meses).

Encorajada pela Professora Adriana, também colunista daqui da Cotoxó, quero falar hoje sobre o Mito da Eterna Juventude.

Falávamos ontem à noite sobre a correria por ser jovem, por ser bonito. E ela, tão alegremente, alertava alguma coisa mais ou menos assim: “não retirem minhas rugas: gastei muito tempo para tê-las.”

Adriana é uma mulher saudável, bonita. Jovem, respeita seu corpo e, logicamente, faz quem está por perto se sentir igualmente aceito, bonito, reverenciado. Obrigada, minha doce e inteligente amiga!

Ela me trouxe a imagem de uma apresentadora de televisão que, juntamente com um jovem médico ‘marombado’ vendia indiscriminadamente a ideia de que fazer uma abdominoplastia era algo completamente simples e de efeito rápido.

Nossa leitura sobre a questão nos rendeu, quase que por livre associação, uma longa e deliciosa conversa sobre as imposições da mídia, a leitura passiva da sociedade sobre essas questões, a falta de posicionamento crítico do público sobre os riscos à saúde e à vida a que temos nos submetidos em nome de ser ‘bonito’ à qualquer preço.

Falamos de auto-estima. De gostar de si mesmo. De se aceitar. Das nossas próprias vaidades. De se respeitar… além de outras milhares de coisas.

A revista Galileu lançou uma matéria interessante sobre o Mito da Eterna Juventude onde indica que técnicas rejuvenescedoras não funcionam e podem ser prejudiciais à saúde.  Ainda: “Não se iluda. A sonhada fórmula do prolongamento da vida e da juventude não está dentro de nenhuma cápsula de vitamina ou hormônio. Não pode ser alcançada por meio das modernas técnicas cirúrgicas disponíveis atualmente, ou da engenharia genética.”

Os deuses gregos  não envelheciam. Eram fortes, poderosos e belos. Provavelmente por causa de nossa cultura ocidentalizada a gente tenha verdadeiro pavor da velhice. Aqui os idosos não são tão respeitados quanto deveriam, infelizmente. Coisas como sabedoria e experiência são deixadas de lado em nome da urgente necessidade de eu parecer ser alguma coisa ou alguém que não sou.

Todo mundo correndo atrás do corpo perfeito. Perfeito a partir de uma regra ou de um padrão estabelecido pelo mundo da moda, dos dominadores do poder, da mídia.  Como fôssemos gado, uma massa modelada por um grande trator, que nos torna, a todos, iguais, sem respeitar que somos essencialmente diferentes uns dos outros e que é justamente aí que reside a beleza das pessoas.

Todo mundo loiro, magro, ‘bundudo’, ‘pernudo’, ‘ peitudo’. Cabelos esticados e pintados. A mesma roupa: calça jeans ligadinha. Saltos altos, de preferência. Rugas? Botóx! Gordurinha localizada? Lipo! Barrigão? Cirurgia plástica, por favor!

E a gente vê morrer um monte de gente que a gente ama. Morrer por que era morena e agora é loira. Por que era legal e agora a gente não consegue identificar se o sorriso é sincero e se a expressão do rosto é natural ou modelada pela toxina de vaca que foi injetada em seus lábios.

A gente não vê mais aquela que amávamos porque não resistiu ao procedimento invasivo que foi o estilete em sua pele, em sua carne e nas camadas mais profundas de nosso coração.