“Me perdoem se for preconceito, mas essas médicas cubanas têm uma cara de empregada doméstica”.
Este foi o infeliz comentário de uma jornalista brasileira no seu perfil no Facebook.
Na mesma postagem, ela questiona o profissionalismo dos médicos que vieram do exterior trabalhar aqui, comentando que “Médico, geralmente, tem postura, tem cara de médico, se impõe a partir da aparência”.
Esse texto acima teve grande repercussão em todo o Brasil, vinda de gente que teve vergonha da fala preconceituosa daquela jornalista.
Seu comportamento é típico de gente que se importa muito com a aparência. Que privilegia o ter acima do ser. Por isso a afirmação de que “médico tem postura, tem cara de médico. Se impõe a partir da aparência”.
Com todo respeito à cara jornalista e já acatando seu pedido de desculpas, pois devemos perdoar a todos, vale a pena pensar um pouco sobre seu ponto de vista, para que a gente evite seguir o mesmo pensamento, inadvertidamente.
A primeira pergunta que fazemos é: como é mesmo que deve ser a cara de um médico?
Como deve ser a cara e o jeito de um ser humano?
Quem mesmo ditou o padrão de como devemos ser? De como deve ser minha postura?
Será que a imagem que eu vejo no espelho é a mesma que vejo na revista?
Quem deve determinar o padrão de beleza que devo ter diante dos homens?
Qual mesmo deve ser minha postura para que eu possa provar que sou uma pessoa digna e que cumpro minhas responsabilidades pessoais e profissionais?
O fato de eu ser uma empregada doméstica me diminui como ser humano ou sou constituída do mesmo material que um médico, que uma jornalista ou que qualquer outra pessoa humana?
Somos todos pó ou o fato de se ter uma profissão com nível superior me faz estar acima dos outros homens e mulheres que pisam o mesmo chão que eu?
Todas essas são perguntas que devem nos levar a reflexão sobre nosso lugar no mundo. Sobre o pensamento equivocado de que ter bens de consumo me faça melhor do que os outros.
Parece que a fala preconceituosa da jornalista retrata um pouco do que sinto quando sorrio de gente que pensa diferente de mim, e que maltrato ou desrespeito por não pensar como penso.
Compactuo com o pensamento preconceituoso da jornalista quando sou tentada a tratar alguém melhor só por causa de suas roupas de grife enquanto trato pessoas pobres da pior forma possível.
Concordo com a jornalista quando sou deselegante com negros ou faço piadas de mau gosto com meus irmãos afrodescendentes.
Concordo com a infeliz jornalista quando humilho pessoas que não conhecem o português formal, aquele da gramática, e os desrespeito com minha risada arrogante de quem pensa que sabe mais e, logo, está acima dos outros.
Sou preconceituosa quando não consigo respeitar e amar todas as pessoas, independente de sua crença, cor, origem, status social.
Sou feia e preconceituosa quando não compreendo que o Cristo de Deus amou e andou com pessoas da mais inexpressiva condição social de sua época.
Ele curou e amou pessoas que talvez eu e você jamais conseguíssemos sequer chegar junto.
Foi com o pensamento de nivelar a todos num alto padrão, que Hitler matou mais de quatro milhões de judeus e o mundo inteiro ainda sente vergonha de ter experimentado uma história de extrema intolerância e desamor como aquela.
É urgente que repensemos nosso ponto de vista como seres humanos moradores do mesmo planeta e nos desfaçamos de nossa intolerância e preconceito a tal ponto que consigamos criar um canto de amor, humildade e paz ao lado de todos os outros seres humanos.
Que minha roupa e minha aparência não sejam mais importantes que eu.
Que nossas diferenças sejam respeitadas assim como respeitamos os demais.
Que sejamos perdoados em nossas dívidas e em nosso equívoco de nos acharmos melhores que os outros.
Que possamos perdoar o pensamento equivocado da jornalista que sofre, também ela, em sua própria pele, nossa intolerância por ela não ter sido politicamente correta em seus comentários.
Que amemos uns aos outros assim como Deus nos amou.