Narcisismo Digital

Narcisismo Digital

Narcisismo Digital

Há um evento que ocorre no desenvolvimento da subjetividade do ser humano bastante interessante e que denominamos “Estadio do Espelho”, a partir do teórico Lacan, um Psiquiatra francês que releu toda a obra de Freud.

Ele menciona uma experiência que diferencia o homem do animal, que marca um momento importante na formação da identidade do bebê humano.

Ao colocarmos um bebê e um macaco, por exemplo, defronte ao espelho, os dois, inicialmente, possuem a mesma reação: num primeiro momento, o espelho não lhes diz nada. Num segundo momento: estranham a imagem refletida, brincam, querem tocar no objeto como se entendessem que ali em sua frente houvesse um outro bebê e/ou, no caso do macaco, outro animal.

Mas tem um ponto que é crucial para marcar a diferença entre o homem e o animal: aquele instante em que o bebê se olha no espelho e percebe que ali, refletido na imagem, é ele mesmo que está. E ele olha para quem o sustenta nos braços e sorri. Naquele momento ele, diferente do animal, se vê portador de uma borda, de um corpo. Ele se vê. E a pessoa que o segura, que o sustenta, confirma finalmente que sim: é ele quem aparece no espelho.

O animal, não. O animal não se percebe. Não se descobre. Não elabora sobre si a ideia de que é um ser. Não possui essa faceta humana de se ver, de se olhar, de se identificar consigo mesmo. Nem pensa sobre si, sobre sua vida. O animal não se critica, não desenvolve o que chamamos de identidade pessoal.

Essa é nossa grande diferença em relação aos animais: nós podemos pensar sobre nós. Que maravilha, não é?

Mas o que isso tem a ver com Narcisismo Digital? Pensemos: está na moda tirarmos fotos de nós mesmos, fazermos autoretratos e postarmos nas redes sociais. Nesse momento, quando postamos a foto nas redes sociais, temos as selfies. Provavelmente isso demonstra um certo narcisismo, um amor próprio, uma autoadmiração. Certo? Há controvérsias. Esse evento está sendo estudado por sociólogos, psicólogos, psicanalistas e muita gente que se interessa pelo tema.

O fato é que há uma busca desenfreada pelos likes. Há uma espera quase aflita por parte de quem posta as selfies no sentido de saber se o outro me reconhece, se gostou de minha imagem divulgada, se me aprova e, parafraseando a ideia do Estádio do Espelho: se o outro pode ‘sustentar’ minha existência com o seu “ok”, com o seu like, com o seu: “parabéns, você existe”. É mesmo a partir do reconhecimento do outro que nos formamos.

Se tentarmos não fazer julgamento de valor para o tão presente Narcisismo Digital que temos vivido a partir das redes sociais nos últimos anos é inevitável perceber (e isso é ponto comum entre os pensadores do assunto) que há uma tentativa angustiosa para recebermos reconhecimento e para validar nossa existência e isso parece se consolidar toda vez que o outro me dá um ‘like’ nas redes sociais. Só que isso ocorre hoje, entre nós: adultos.

É como se a pessoa concluísse: sim, estou vivo e minha existência foi confirmada pelo outro: veja quantos likes recebi naquela selfie. Isso vale para adultos? Vale. Mas o adulto minimamente amadurecido já deveria saber de si e não depender tanto do olhar do outro. Quem sabe estar mais autoconfiante, com a autoestima melhor elaborada?

Isso tudo ocorre num contexto social em que a superfície é bastante valorizada, como traço do mundo contemporâneo. As profundidades são desprezadas em várias áreas do conhecimento. Há uma certa preguiça ou desânimo em buscar sentimentos mais consistentes ou melhor elaborados sobre a existência humana e acabamos, então, na beira. No raso. Empobrecidos tal qual Narciso que morre vislumbrado em sua própria imagem.

(Contatos para agendamento de consulta: iedasampaio@gmail.com ou 73-99976-7560 (zap)

Baleia Azul

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(Transcrevo integralmente abaixo minha conversa pelo whatszapp com uma adolescente muito querida de 16 anos de idade, para sondar como andava sua cabeça acerca do jogo que tem preocupado muitos pais e autoridades atualmente):

– Querida, o que você acha do Baleia Azul?

– Eu acho que o povo, os pais, tão sendo idiotas de acharem que o jogo tá fazendo as pessoas se matarem. Não é o jogo. O jogo só faz aquilo (eu vi a lista de coisas que o jogo pede)… só faz aquilo que já tá destruído mentalmente, emocionalmente, entendeu? Porque eu nunca faria aquilo. É uma coisa para mim que não tá em meu alcance. Mas se a pessoa vir aquilo e faz, é porque ela já tá levando a sério, é porque ela já tá num estado já ruim. Aí os pais ficam achando que é só ver a lista que o filho já vai sair fazendo. Não. É outra coisa, meu filho: o jogo só é uma consequência. Mas esses jovens que tão fazendo já tão destruídos emocionalmente, antes mesmo do jogo surgir.

-Concordo, linda. Mas e os controles? E as tarefas? E as ordens? Como é que o adolescente ou o jovem fica quando começa a jogar? As tarefas vão sendo dadas… Lembra do Black Miror? Houve um episódio em que aparecia um hacker que ia dando ordens para as pessoas fazerem tarefas e se não as fizessem seriam penalizadas. Eu penso que o jogo Baleia Azul seja um pouco parecido com aquilo.

As tarefas, tia, são assim: “faça um corte em sua mão, se corte! Faça tal corte! Assista a vários filmes de terror durante a noite! Tal prova o seu mentor vai te dar…” É meio bizarro assim, sabe? Um negócio assim que você tem que tá mal, véi. É um negócio meio pesado. Eu vi, achei meio… é… eu não faria nada daquilo, sabe? A pessoa tem que tá muito mal. O que o povo não percebe é que a gente tá mal. Muito mal, muito tempo. Só que é aparecer um jogo desse pra estourar de vez, o povo vai achando que foi agora que os jovens começaram a se suicidar. É isso, tia. Black Miror é (como é que fala?): apocalíptico. Eu não sei. Rs. Como é? Profetizador. Ah, não sei! Parece que é uma visão futurista darealidade. Mas, enfim. O jogo é… dá pra ver, dá pra imaginar que a pessoa que começa a fazer aquilo, ela começa a ficar dentro daquilo porque… é tipo assim: “faça isso!” Aí a pessoa vai e faz. Aí, por exemplo, na segunda tarefa, você, ou faça tal desenho com um corte no seu pulso. Se você não fizer, se corte todo. Ou seja: se puna. e se a pessoa não leva a sério aquilo, véi, ela fica presa. A cada prova a coisa vai piorando… e no final, que é se matar, é claro que a pessoa já tá numa situação horrível. Não é uma pessoa saudável que vá jogar aquilo, tia, pelo amor de Deus, né?

– E você está ruim, amor?

– Não tou maravilhosa. Estou melhor. Eu tou conversando mais, fazendo mais amizades. Tou melhor… Mas, assim, mesmo eu estando mal, eu acho que eu não entraria num jogo desses, porque, tipo assim, tia, uma coisa que o povo tem que perceber é que tem muita gente depressiva por aí, entendeu? E quando a pessoa se expressa a gente acha logo que é drama, né? Só que aí chega um jogo desse, e é a única forma que a pessoa tem para se expressar, vamos dizer assim. Então, na verdade, não é porque estou triste que vou jogar um jogo assim. É gente depressiva. Não é o jogo que tá fazendo o povo se matar. O jogo só tá mostrando que tem muita gente mal.

– Obrigada, amore, por clarear minha visão.

– Tchau.

Tenho visto nas redes sociais as pessoas falarem que a juventude precisa de palmada, de surra, de repreensão.

Que bom saber que o olhar do adolescente sobre os adolescentes e jovens envolvidos no jogo Baleia Azul é mais tolerante e acolhedor do que de alguns adultos que estão atordoados, amedrontados e fragilizados diante do horror imposto pelo jogo.

Como Psicanalista eu me posiciono a favor de obtermos conhecimento sobre o assunto, levarmos a sério o sofrimento dos jovens/adolescentes a ponto de os levar a participar de eventos tão densos como o desse jogo, de drogas e outros perigos que podem lhe conduzir à morte.

Também penso que o caminho do castigo não resolva. Pensemos que o próprio jogo Baleia Azul propõe castigos que são levados a sério pelos jovens. Ou seja: penalidades às vítimas só fortalecerá o intuito do próprio jogo.

Pais e responsáveis deveriam, sem medo e com a segurança que se espera da parte dos adultos, conversar sobre o assunto, sem julgamentos com os adolescentes/jovens. Ouvir atentamente a posição deles, escutar o que diz seu coração.

Aliás, pouco se tem hoje em dia de colo, de tempo qualitativo dispensado aos filhos, de amor tolerante e firme. Os pais têm medo de dizer “não”. Medo de determinar limites.

Peso que dar tratamento firme e confiante para com os pequenos não signifique agir com autoritarismo. Por outro lado, ter medo de lidar com as angústias das crianças também não resolveria. Esses são dois polos perigosos na nossa relação interpessoal, principalmente quando consideramos que a criança/adolescente espera de nós firmeza e segurança.

Acredito que não há jogo, poder, terror ou morte que não possam ser vencidos pelo amor constante, pelo posicionamento firme e seguro, pela mão acolhedora e por um ouvido disposto a segurar tensões e problemas interiores de nossas pequenos.

Aliviada pela postura adolescente, leve e madura da pessoinha do meu bate-papo, compartilho esse texto para que a gente possa ver como nossos pequenos são criativos, engraçados, intensos e profundos.

Ainda há chance para essa nova geração. Depende de nós. De todos – TODOS – nós. 

Decifra-me ou te devoro.

 

 

 

 

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O desafio da esfinge, no Mito grego, muito tem a ver com nossas relações pessoais.

A esfinge fazia uma pergunta, um questionamento. Se você conseguisse responder, joia. Sairia ileso. Sucesso total.

Caso não conseguisse responder corretamente à pergunta, seria morto, devorado, castigado. Sim. E daí? O que isso tem a ver comigo?

Se você tem um amigo que, do nada, fecha a cara para você, fica mal, não fala mais com você e você não tem sequer noção do que ocorreu para que ele ficasse tão mal assim, você está lidando com essa questão.

Se você tem uma namorada que, do nada, se zanga e você não consegue entender o motivo do mal-estar; se sua mulher está muito chateada com algo que você tenha feito e que você não tem noção do que é, é isso! Você está vivenciando essa dificuldade.

No fundo, parece uma incapacidade de verbalizar o que se sente.

Estou muito zangada! Espero de você outro comportamento ou uma fala especial”, mas não lhe dou a chance de saber, sequer, o que espero exatamente de você e/ou o que desejo ouvir.

Para quem está do lado de cá, essa situação é difícil, complicada e até constrangedora. A pergunta é: como vou satisfazer o desejo do outro ou tentar aplacar a dor do outro se sequer tenho noção de qual seria essa dor? Como uma pessoa poderia tentar satisfazer outra que não consegue expressar claramente o que quer e que não deixa claro o motivo de sua frustração em relação ao outro?

E o relacionamento dos dois (marido-mulher, filho-mãe, patrão-empregado, etc) vai ficando fragilizado, empobrecido, pois não se sabe, ao certo, para onde se deve seguir, pois as prerrogativas não ficaram antecipadamente claras.

Por isso que vale a pena falar. Falar e ser ouvido. Conversar sobre os pontos tensos, sobre as insatisfações.

Conheço uma mulher que fala: “se a pessoa não conseguiu ler minha vontade nas entrelinhas, no olhar, ela não vai conseguir entender nunca”.

E eu fico morrendo de pena dos dois: de quem acha que tem o direito de ser compreendido e de quem fica sendo julgado por não ter a capacidade mágica da adivinhação. Uma relação assim estará fadada ao insucesso. Infelizmente.

Tratar cada nó, cada mal entendido com diálogo, com uma conversa franca e clara, onde as pessoas envolvidas ficassem a par do que se quer.

A partir daí, os desejos estarão claros e as relações fluirão com maior leveza.

Se eu lhe falo o que quero, você vai entender o que desejo. Para me atender ou não. Mas saberá exatamente o que me angustia na nossa relação.

Se for assim, se os pontos estiverem postos e os pontinhos nos ‘is’, não haverá necessidade de se viver brigando ou de se desenvolver frustrações em relação ao outro.

Na relação, as pessoas não estão obrigadas a satisfazerem um ao outro em tudo. Mas elas terão o direito de acertar ou errar. Sem o risco de serem devoradas.

Último Desejo

 NOEL ROSA

 

Hoje eu quero brincar de analisar a letra da música do nosso querido compositor brasileiro Noel Rosa:

“Nosso amor que eu não esqueço / E que teve o seu começo / Numa festa de São João. / Morre hoje sem foguete / Sem retrato e sem bilhete / Sem luar, sem violão / Perto de você me calo / Tudo penso e nada falo / Tenho medo de chorar / Nunca mais quero o seu beijo / Mas meu último desejo / Você não pode negar / Se alguma pessoa amiga / Pedir que você lhe diga / Se você me quer ou não / Diga que você me adora / Que você lamenta e chora / A nossa separação / Às pessoas que eu detesto / Diga sempre que eu não presto / Que meu lar é o botequim / Que eu arruinei sua vida / Que eu não mereço a comida / Que você pagou pra mim.”

Noel dá início ao seu pensamento falando da festa do início dos relacionamentos. De quando tudo é bonito, tudo é alegria. Depois ele menciona que ao contrário disso, o fim do romance dolorido, sofrido, sem música, triste mesmo.

Ele traz à tona sentimentos negativos tão próximos de nós quando nosso amor vai embora, quando o tempo bom se vai. Desfazer as malas e dar adeus nunca foi tarefa muito fácil para a maioria das pessoas.

O vínculo amoroso que antes era bom, agora tem gosto amargo, nos chicoteia, nos machuca, nos fere. Requer de nós uma pausa, um tempo.

Depois o Noel amplia a perda que até agora só interessava ao casal e fala dos outros. Sim, dos amigos, dos parentes, dos conhecidos. De alguma forma era como se todos os outros também tivessem feito parte daquela história e que tivessem, os dois, que dar satisfação à sociedade.

Essa poesia me chama a atenção pois em tempos de redes sociais parece que estamos muitíssimo preocupados com o que os outros vão pensar de nós. Já era assim na época de Noel e, de alguma forma, sempre será, pois o ser humano é um ser social. Ninguém é uma ilha, já dizia John Donne.

Pedir ao outro que fale para os outros que “você me adora, que você lamenta e chora a nossa separação” é solicitar que o ex-parceiro reconheça, ainda que não seja verdade, publicamente, que ‘eu’ sou uma pessoa do bem, que eu fui/sou amado(a); que mereço coisas boas e sou importante. No mesmo texto, o poeta também pede o contrário: “às pessoas que detesto diga que não presto, que meu lar é um botequim.”

Cumprindo o velho ditado: “falem mal, mas falem de mim.”

O ser humano precisa de reconhecimento, talvez esse seja mesmo seu último desejo.

 

MEU PEQUENO MUNDO EM CRISE

Plant in dried cracked mud

Crise para todos os lados e ela, lá em seu pequeno mundo, num momento feminino particularmente sofrível.

 Sim, ela, Psicanalista, se vendo, se percebendo moída, querendo chorar, murchinha, dentro de si.

 Assumir que também sofre lhe remete à sua mais profunda condição de ser humano.

 Sendo mulher, precisando compreender hormônios, oscilações típicas do mundo feminino e refletindo que há um lugar para o sofrimento num mundo que impõe que “você precisa ser feliz a qualquer preço”.

 Os espaços capitalistas quase nos convenceram de que o sorriso precisa estar no rosto todos os dias, de que ela não podia ter seus momentos íntimos de introspecção, de dor, de lamento.

 A ideia de que felicidade é um produto que pode ser comprado numa prateleira de supermercados a aliena de si mesma.

 Tomamos remédio para dormir, café para acordar, estimulante de apetite e inibidor químico. Tudo para ser feliz. Tudo para se sentir bem, realizada. Tudo para estar igual à moça da revista ou da TV.

 A vida calma, o enriquecimento interior – que passa, sim, também, por momentos de tristezas, de gratidão, de reflexão – parece não ter lugar nesse mundo que gira rápido e que lhe pede a melhor foto (e o melhor sorriso) para ostentar nas redes sociais.

 Ela estranha qualquer emoção negativa (dor, tristeza, por exemplo), como se essas também não pudessem de jeito algum fazer parte de sua vida.

 Lá dentro, crise. Lá fora, também.

 E como o grito de um pai desesperado que quer que o filho compreenda, ela ouve um convite à realidade: há crise para todos os lados: crise econômica, social, ambiental, política. Há também suas crises pessoais, seus lamentos. Você está autorizada a sofrer.

 Pronto. Ela chora, lamenta, se angustia, lava e cara e sai pra vida, cheia de segurança pois foi gente.

 Gente de verdade.

Nome Próprio

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É certo que há nomes de pessoas que  nós não gostamos.

 

Há nomes que soam de um jeito diferente, talvez muito grande ou pequeno demais.

 

Há nomes que nos soam mal. Que, definitivamente, não colocaríamos, nunca, em nossos filhos.

 

Outro dia eu ouvi o nome Benedito. Benedito, para muita gente, não é um nome bonito.

 

Mas aquele nome aqueceu meu coração e me fez dar um suave sorriso. Um sorriso de saudade, de alegria talvez.

 

O nome Benedito, embora grande e pesado para muita gente, representa algo especial para mim: é exatamente o nome de meu pai.

 

Quando eu encontro alguém com esse nome, me vem à memória as mais suaves e agradáveis lembranças.

 

Meu pai representou e sempre representará alguém especial, um bom pai. Alguém que me amava e sempre esteve ao meu lado, assim como eu estive sempre ao seu lado, em momentos difíceis e alegres.

 

Seu nome representa, então, sob meu ponto de vista, allgo que significa amor, bondade, acolhimento.

 

João, José, Judite, Jonas, Joel, Dilza, Ita, Ilza, Nildes, Benilde, Maria, Pedro, Manoel, Joel, Landulfo, Lomanto, Joana, Angélica, Angelina. O que esses nomes representam para você? Você se lembra de que enquanto os escuta?

 

Há uma coisa em Psicanálise que chamamos de Livre Associação. Faz parte da técnica psicanalista considerar o que uma coisa, um nome, um som, uma música, significa para a pessoa. Isso é exclusivamente pessoal, subjetivo.

 

Assim: uma coisa puxa outra, faz referência, de alguma forma, a outra.

 

Então, no consultório, o analista vai, dentre outras coisas, considerar e ajudar a pessoa a tomar consciência do que ela associa com o que. O que uma idéia, um nome, uma coisa, lhe faz lembrar.

 

Assim, aos poucos, aquela sua fala, aquela sua idéia que antes você pensava que não tinha nada a ver com nada, vai tomando forma, vai criando consistência, tomando sentido para você, de um jeito consciente.

 

Eu tive uma paciente que ficava chocada pois sua amiga sempre dizia que todos os homens iam embora pois na primeira e mais importante representação da minha analisanda, homens ficavam, criavam seus filhos e, embora tivessem dificuldades, não desistiam dos seus casamentos.

 

A diferença é que, para uma, a analisanda, seu pai havia ficado em casa. Para a outra, seu pai tinha ido embora, deixado a mãe sozinha e plantado para sempre na cabeça da menina uma idéia triste de abandono e um certo sentimento de desilusão.

 

Ou seja: você vê o mundo com os seus próprios olhos, a partir de sua própria experiência. Isso pode ser modificado? Sim. A partir da tomada de consciência, mas as associações sempre serão feitas. Conscientes ou não.

 

Para mim, meu pai ficou.

 

Ficou, criou a prole, deu conta do recado e garantiu nossa sobrevivência mesmo com muitas dificuldades.

 

Benedito soa, para mim e em minhas mais íntimas associações, um nome doce, um nome bonito.

 

Be-ne-di-to!!!

CULTURA DO BEM

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Num dos últimos jogos da Copa do Mundo de 2014 ocorreu um fato que deixou o mundo chocado e especialmente os brasileiros muito tristes: Brasil contra Colômbia, lutando pela vitória, vivendo momentos de tensão e grande expectativa e eis que um jogador colombiano bate o joelho nas costas do jogador Neymar, causando sua exclusão da Copa, a quebra de seus sonhos, a destruição de seu maior desejo que era ser campeão do mundo.

 

Na entrevista que o jogador colombiano deu a alguns jornalistas, ele afirmou que não era sua intenção machucar Neymar, pediu desculpas mas disse que seus colegas tinham sofrido faltas do jogadores brasileiros, deixando claro, nas entrelinhas, que sua intensão certamente era o de descontar, de se vingar do time brasileiro.

 

Ao final do jogo, o jogador David Luiz, da seleção do Brasil, vai consolar um dos jogadores do time colombiano que chorava amargamente o resultado final que dava vitória ao time do lado de cá.

 

De um lado, uma possível vingança, a construção do mal, a dor de Neymar e a tristeza de todos os brasileiros. Aquele jogador havia chorado aos berros, sinalizando claramente que sua dor não era só física. Era dor emocional também. Era a dor da perda, do desligamento de seus sonhos, da grande frustração que estava vivendo por perceber que não voltaria mais aos jogos pelo menos nessa Copa.

 

Por outro lado, David Luiz consolando, abraçando, limpando as lágrimas do adversário.

 

O exemplo do David Luiz foi uma mensagem surpreendente para o mundo: como acolher o suposto inimigo? Como sentar-se à mesa do amor com ele? Como abraçar e beijar o time oposto, o outro?

 

Acredito que o bem se faça assim: na desconstrução do mal.

 

É o que diz a carta aos Gálatas: “Façamos bem a todos” . Indistintamente. Sem  reservas, a tempo e fora de tempo. Sempre.

 

Eu não acredito em palavras, em afirmações positivas. Palavras não tem tantos poderes mágicos assim: você pode fazer o mal a quem você chama de “abençoado”, por exemplo.

 

David Luiz marcou o mundo com o seu poder de perdão, de desconsiderar o mal que seu time havia sofrido, por conseguir amar.

 

David Luiz entra para as páginas da história como herói, não só por ter sido um grande jogador, mas por ter superado as expectativas, por ter sido um homem capaz de, olhando para frente e não para o mal, cuidar, fazer o bem, amar.

 

 

Camisa verde-amarelo

brasil

Em dias de Copa do Mundo, quão grande é nossa emoção para ver os jogos, torcer pelo nosso time e vestir, até mesmo no trabalho, o tão bonito verde-amarelo.

O Hino Nacional, eleito o mais belo de todas as nações, é cantado a plenos pulmões por todos nós, até por nossas crianças.

Ele nos emociona, nos alegra, nos arrepia, nos representa.

Para nós, não basta cantar o pedacinho imposto pela FIFA. Nós o queremos inteiro, todo cantado.

Nosso hino é rico e sofisticado. Poética e musicalmente completo. O povo brasileiro gosta do que é bom.

Dá pena perceber que confundimos patriotismo com amor à seleção brasileira.

Amar o País, amar o Brasil, deveria ir além do jogo. Além da Copa do Mundo. Além de um momento estanque como o que vivemos agora.

Quem ama, serve.

Quem ama, se dedica.

Quem ama, luta para dar de si mesmo o melhor.

Não é assim?

Vou lhe dar um exemplo: você teria vergonha de usar a camisa verde-amarelo depois da Copa, ou se a seleção brasileira de futebol perdesse o jogo?

As bandeiras hasteadas por todos os lados de nossa cidade continuarão quando essa festa da FIFA acabar?

Cantaremos o hino com tanto entusiasmo caso nossos jogadores não nos tragam a desejada taça?

Nosso suposto ‘patriotismo’ permanecerá em nosso coração com tanta alegria depois do jogo, ou de fato o que amamos mesmo é só o futebol?

Estou pensando, junto com você, que parece que amamos mesmo é só o futebol. É a copa. É nossa seleção, são nossos jogadores. Não nosso País.

Sinto pena ao perceber que estamos distraídos, como que enganados, iludidos.

Nossa torcida deveria ser, todos os dias, pelo bem de nossa Pátria. Torcida expressa.

Nosso amor, nossa energia, nossa pulsação, nosso grito, deveriam ser identificados e demonstrados diariamente.

Que eu queira contribuir por uma melhor nação.

Que eu, enquanto viver e como sujeito ativo em trabalho e construção, possa contribuir incansavelmente por um País mais justo, politicamente saudável, ambientalmente sustentável.

“Pensar globalmente e agir localmente”, com a consciência voltada para o bem de todos.

Amar o Brasil tem a ver com ações práticas de bondade e justiça de minha parte para com todos os brasileiros.

Amar os símbolos da Pátria como nossa Bandeira, nosso Hino, deveria ser estimulado, por exemplo, pela mídia, mais vezes e com maior ênfase. Deveria ser um ato contínuo de todos nós.

Nosso belo idioma, nossa cultura popular, nosso jeito alegre e solto, nossa gente do bem, deveriam ser nosso orgulho, motivos de um sorriso grato e sincero.

Eu sou brasileira, o tempo todo.

E, como dizem por aí, eu não desisto!

 

 

 

 

 

 

 

MINIADULTOS

miniadulto

Você é daquele tipo de pessoa que conta todos os seus segredos, medos e inseguranças à seus filhos menores?

Você acha interessante que seu filho menor de idade ouça com atenção e até sofra com você por causa de seus problemas?

Essa é uma questão que tem me chamado a atenção ultimamente.

Quando eu era criança, minha mãe tinha brigas com meu pai que nós nunca tivemos conhecimento.

Mesmo sem um vasto conhecimento acadêmico e sem um diploma de Psicologia na mão, ela nos poupava da vida dura que levavam, das intrigas e lutas que um travava diariamente com o outro.

Nós, crianças, em casa, tínhamos o direito de brincar, de viver nossas fantasias infantis, de estudar em paz.

Nada além da escola e do tema da próxima brincadeira nos tomava a atenção. O coralzinho da igreja também era uma alegria. As artes, as leituras, os brinquedos feitos por nós, eram donos de parte importante de nosso tempo.

Confesso que tive uma infância feliz, embora como todo ser humano fosse vítima de pequenos traumas, aqui ou ali.

De uma coisa nossa mãe nos protegia, quando nos poupava dos seus problemas: ela nos protegia da vida dura, ela permitia que nossa criatividade e alegrias tivessem lugar em nossa primária consciência infantil.

E seus filhos foram formados pessoas íntegras, saudáveis, saciados com o pouco que tínhamos e com força necessária para modificar a realidade ou para buscar melhorá-la de alguma forma.

Voltando à questão do nosso tema: miniadultos são crianças que não possuem o direito de ser, pensar e agir como crianças, em seus respectivos período de maturação.

Em outras palavras, chamo de miniadultos aquelas pobres criaturinhas bombardeadas diariamente pelo sofrimento de seus pais.

Tanto por brigas que eles presenciam, quanto por contas que nunca se fecham, quanto pelas dores próprias dos adultos, nossos filhos estão sendo diariamente afetados pelo difícil mundo dos adultos.

O Estatuto dos Direitos da Criança e do Adolescente orienta que eles não trabalhassem, que eles tivessem o direito de brincar e de se desenvolver a seu próprio tempo, tanto intelectualmente, moralmente, fisicamente etc.

Infelizmente quando contamos nossos problemas cruamente para nossos pequenos, nós não podemos controlar nem imaginar o que isso poderá originar na mente dos nossos queridos filhos.

Se é preocupante alimentarmos apenas um mundo de fantasias em nossas crianças, gerando com isso adultos imaturos, também é bastante sério provocar medo da vida em nossos pequeninos quando não os poupamos de nossos monstros, de nossas dores, de nossa difícil vida adulta.

Conheço várias crianças que não querem crescer, pois a conversa dos pais em casa é que a vida lá fora é amedrontadora e que ser adulto é triste, difícil, uma verdadeira luta.

Conheço crianças inseguras e apavoradas porque seus pais lhes contam diariamente coisas tristes, violências, dificuldades financeiras etc.

Em que medida você acredita que sua criança vai querer viver de verdade num mundo assim?

Vejo adultos infantis, imaturos, desestimulados a seguir e eles receberam uma escola em casa: a escola do medo, da palavra desencorajadora, ameaçadora.

Uma pena que justamente esses pais esperem o contrário de seus filhotes: que eles sejam adultos emancipados, donos de si, alegres, confiantes e vitoriosos.

Criança precisa brincar, precisa viver.

A infância deveria ser a fase mais lúdica, mais agradável, mais criativa da vida.

Que possamos pensar sobre como somos, o que falamos e como nos comportamos diante de nossos filhos.

Que tenhamos sabedoria diante da vida, diante dos pequenos.